sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O fim do rock (como nós conhecemos)?

Li na Billboard Brasil desse mês (01/10) um artigo muito interessnte sobre o fim da era do rock. Escrito por Robert Hilburn, crítico de música pop do jornal Los Angeles Times, é um questionamento sobre o fim do rock, no formato que nós conhecemos. Ele disserta sobre o poder que o rock´n´roll tinha na vida dos jovens quando surgiu. Era considerado um "artigo de fé" e transmitia a idéia de que se poderia "mudar o mundo". E, à medida que o tempo foi passando, assumiu outras funções e responsabilidades.
Lá no início, os artistas eram realmente engajados e imbuídos de ideais nesse sentido. Fazer a diferença, da forma que fosse, era um lema constante e adotado pela grande maioria dos músicos. De Beatles e Bob Dylan a U2 e, mais recentemente Neil Young e Pearl Jam - talvez a última banda a realmente querer fazer a diferença -, apenas para citar alguns exemplos, vestiram a camisa do rock e levantaram sua bandeira com orgulho.
Mas o que está errado hoje?
Hilburn disserta dizendo que os jovens artistas têm culpa porque "não têm o objetivo de fazer discos que atingirão o público em massa". Além do mais, a música não faz mais parte da vida e do cotidiano dos jovens.
Ele prossegue afirmando que o público mais jovem não se sente conectado com o rock. Os discos não são mais pedras fundamentais em suas vidas. Eles não precisam mais de heróis.
Nesse ponto, vou mais longe. Não há nada mais que possa ser transgredido. O r´n´r que sempre carregou o estigma de poder ser transgressor, ou de poder mudar a situação, como queiram, não tem mais essa função. Hoje, pode-se protestar e ser engajado de várias outras maneiras. Com a internet, principal veículo de informação atualmente, pode-se chegar em qualquer lugar. Blogs, myspaces, facebooks, orkuts, garantem todo o espaço necessário para quem quiser se manifestar ou se deixar conhecer. Inclusive pela música.
Ao mesmo tempo, a velocidade do mundo hoje é muito alta. Tudo é muito efêmero. Há tantas fontes de informação, de entretenimento... há tantas coisas possíveis de se fazer. Escutar rock´n´roll talvez não seja o que essa nova geração prefira fazer... Jack White, em entrevista a Robert Hilburn, afirma: "essa geração vê a música como uma presença passiva. É algo como 'vou jogar videogame e, quando eu voltar pro rock´n´roll, ele vai estar esperando'. Eles não compram o cd, mas fazem downloads e repassam para os amigos".
Por outro lado, a grande indústria musical também leva culpa nessa "transgressão" do próprio r´n´r. Principalmente pelo fato de demorarem a dar uma resposta eficiente aos desafios propostos pela internet. Há também o fato dos executivos de grandes gravadoras exigirem um retorno financeiro a curto prazo, o que impede promover uma carreira decentemente. E mais, as gravadoras não conseguem visualizar novos talentos que sejam realmente bons.
Antes de concluir com soluções, quero deixar claro que não condeno o fato de bandas e músicos desejarem - e gostarem - fazer música por música. No entanto, o engajamento que já existiu no r´n´r está realmente chegando ao fim. O rock como nós, aqueles que já passaram dos 30, conhecemos está morrendo. 
Soluções?
Ainda com Hilburn, a primeira que é endereçada às bandas: sejam megalomaníacos. Acreditem que possam chegar ao grande público. Mostrem que têm o que falar, que têm conteúdo, que têm significado. 
E para as majors: é preciso reconquistar os músicos. É necessário encontrar jovens artistas que tenham o que dizer e que sejam realmente visionários. Cuidar desses artistas. E sejam parceiras, parem com a escravidão.
E ele conclui: artistas lendários, como Bob Dylan e Neil Young, fizeram grandes álbuns que mexeram com a sociedade assim como venderam milhões de discos. E ainda vendem! Sua música conquistou gerações e gerações de jovens que compraram milhões de discos de outros artistas por paixão à música, ao rock. Bruce Springsteen e Kirk Hammett (Metallica) afirmaram em entrevistas recentes que a grande maioria do público de seus shows são de novos fãs. E que novo artista "tem a ousada intenção de fazer uma geração de fãs"?
A resposta talvez seja desesperadora.